Por que a desinformação ameaça a democracia e a ciência

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  • 8 de Agosto de 2023
Seminário discutiu os desafios impostos pelo fenômeno da desinformação ao sistema democrático e à credibilidade da ciência no Brasil

“Se nós parássemos para avaliar os impactos que a inteligência artificial terá em todos os planos de nossas vidas, as questões relativas à desinformação podem ganhar outra escala. Então, não criemos ilusões que haverá soluções mágicas para enfrentar o fenômeno da desinformação nas condições de hoje”, alertou o deputado federal Orlando Silva (PCdoB-SP) no webinário “Visão e ações do Executivo e Legislativo no tema da desinformação científica”, realizado em 8 de agosto, na Fiocruz Brasília.

Organizado pela Academia de Ciências da Bahia (ACB) e pela Fundação Conrado Wessel, o evento contou com a participação de representantes dos Poderes Executivo e Legislativo que discutiram os fatores condicionantes da desinformação no Brasil com vista a fomentar ações de prevenção e enfrentamento.

Segundo o presidente da ACB, Manoel Barral-Netto, informações distorcidas abalam a confiança da comunicação social da ciência e estão na raiz da polarização social moderna. Na medida em que não há mais confiança nas informações, geram-se bolhas de comunicação, restritas e com muitas distorções, que ameaçam a democracia.

Para o cientista político Leonardo Avritzer, a desinformação afeta os fundamentos da ordem democrática. Segundo ele, existe atualmente um fenômeno novo, em que a política determina a mentira na ciência. Somado a esse fenômeno, há ainda uma forte rejeição à racionalidade em todos os campos, algo inédito desde a ordem política criada na Revolução Francesa. “A resposta a esse problema, de um liberalismo antirracionalista, está na ciência e na democracia”, afirmou.

Ações de enfrentamento  

A implementação de uma agenda científica de combate à desinformação que inclua o desenvolvimento educacional de pesquisadores nas questões sociopolíticas do país foi evidenciada por Barral-Netto. “A gente não pode continuar formando cientistas super técnicos, mas que não são cidadãos. É preciso que eles se insiram na sociedade para que a ciência seja para o bem”, defendeu.

De acordo com o secretário de Políticas Digitais do Ministério da Comunicações, João Brant, o crescimento das redes sociais reorganizou os espaços de troca de informações na sociedade. Se de um lado, essas plataformas digitais possibilitaram a ampliação do número de atores nas discussões políticas e sociais; de outro, o modelo de negócio utilizado pelas big techs privilegia o engajamento em detrimento ao combate à desinformação.

“Esse modelo dá muito espaço para a ação de atores mal-intencionados por motivos financeiros ou políticos, que não têm responsabilidade pública de seus atos”, explicou Brant. Para ele, a regulação das redes sociais pode fortalecer a liberdade de expressão dos usuários ao ampliar a transparência. Ela também pode conter os efeitos negativos desse modelo de negócios ao atacar os riscos sistêmicos das atividades das plataformas, provocando uma mudança nas discussões sobre a responsabilidade das big techs na disseminação de fake news.

Desinformação sobre as vacinas

Movimento antivacina consolidado, com estoques limitados e insuficientes do calendário básico de imunização e muitas vacinas vencidas. Esse foi o cenário encontrado pela secretária de Vigilância em Saúde e Ambiente do Ministério da Saúde, Ethel Maciel, ao assumir a Secretaria da Pasta em 2023.

De acordo com a secretária, o Ministério da Saúde traçou princípios norteadores para combater a desinformação sobre as vacinas, entre eles foram destacados: fortalecimento da comunicação pública da ciência; valorização da ciência como parte da cidadania; célere combate à desinformação; e retomada de decisões sanitárias baseadas em ciência.

Veja aqui a íntegra do primeiro seminário do projeto Enfrenta!, uma série de eventos – com transmissão ao vivo pelo Youtube – no tema da desinformação intencional e do ceticismo na ciência.