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Mesa de debate foi coordenada pelo Nethis, no X Congresso de Bioética, em Santa Catarina
“Precisamos reduzir a iniquidade e a mortalidade por causas evitáveis”, disse o professor do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia Eduardo Mota durante a abertura da mesa Desenvolvimento e Desigualdade em Saúde no Contexto Internacional. A atividade, programada pelo coordenador do Nethis, José Paranaguá, ocorreu no dia 26 de setembro, no X Congresso de Bioética, em Santa Catarina.
Além de Mota, o pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e do Núcleo de Estudos de Saúde Pública (Nesp/UnB), Roberto Nogueira, e o gerente de Sistemas de Saúde e coordenador de Recursos Humanos da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas/OMS Brasil), Félix Rígoli. Mota apresentou dados sobre mortalidade infantil, iniquidades e mortes por armas de fogo. Segundo ele, a mortalidade materna diminuiu em todas as grandes regiões do mundo, mas não irá atingir a meta do milênio.
Paranaguá ressaltou que a diferença entre o estágio e o desenvolvimento da bioética entre os países também é evidente, e que é preciso parar de discutir se há uma bioética ou “as” bioéticas. “Precisamos pensar mais em como transformar dados científicos, evidências e diferenças epidemiológicas em temas de discussão da bioética”.
A SAÚDE NOS BRICS – Nogueira apresentou os primeiros resultados de uma pesquisa em desenvolvimento no Ipea sobre as condições de saúde dos países que compõem o grupo de cooperação BRICS – Brasil, Rússia, índia, China e África do Sul, uma análise entre 1990 e 2010. “Na Rússia e na África do Sul há uma crise sanitária evidenciada pelo excesso de mortes por causas distintas: doenças não-transmissíveis e doença transmissível”, diz Nogueira. Ele apresentou números referentes a infecção por HIV, ao consumo de álcool, tabaco, a mortalidade infantil (até um ano de idade) e neonatal (28 dias de vida) e a obesidade.
Na Rússia, as causas da crise sanitária são as doenças cardiovasculares, associadas a obesidade e ao consumo de álcool e de tabaco. Na África do Sul, a HIV/Aids “tem um poder devastador”, 10% da população está infectada. O impacto das crises está refletido na expectativa de vida das pessoas. Na Rússia, em 1990 a expectativa de vida era de 69 anos; em 2000, de 65 anos; e em 2011, de 69 anos. Na África do Sul, 63, 57 e 57 anos, respectivamente. “Apresentar a mesma expectativa de vida de 20 anos atrás caracteriza uma anomia social que está relacionada com o fim do regime soviético e sua estrutura de condições de vida”, afirma Nogueira.
A China, com 76 anos, e o Brasil, com 74 anos, lideram os cinco países com expectativas de vida em 2011. Ele aponta que a consequência para a Rússia será de um decréscimo acentuado da população em 2030. A África do Sul não é afetada pela mortalidade, “pois tem uma taxa de fecundidade alta que compensa”.
ALTRUÍSMO OBRIGATÓRIO – Rígoli afirma que não existem valores morais ou éticos universais. E exemplificou: existem culturas em que a mulher é vista como propriedade do homem, ou que matar crianças não é crime. Na cooperação entre países, Rígoli estuda se a solidariedade – como base dessa interação – é um valor universal. “Nós, enquanto sociedade, temos algumas obrigações, mesmo que a gente não queria”, comenta.
Ele afirma que sobrevivem os mais capazes de cooperar com os outros, não os mais fortes. A sobrevivência e o progresso dependem da capacidade de trabalhar coletivamente. “Uma política de cooperação internacional é um altruísmo obrigatório”.
Rígoli acredita que a reciprocidade é outro componente que acompanha a cooperação internacional, pois os países cooperam pensando que em algum momento o outro país irá voltar com a ajuda, mesmo que não seja imediata.