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A utilização permanente, sistemática e transparente do conhecimento científico como suporte para políticas de Estado foi ponto de convergência entre os palestrantes do IX Ciclo de Debates
André Freire (Nethis/Fiocruz)
A utilização de mecanismos de inteligência na formulação de políticas públicas em saúde foi o tema da sessão de 21 de junho do IX Ciclo de Debates sobre Bioética, Diplomacia e Saúde Pública ocorrida na Fiocruz em Brasília.
O pesquisador em Saúde Pública da Fiocruz em Brasília Jorge Barreto destacou os desafios enfrentados para integrar as evidências científicas ao processo de tomada de decisão em políticas públicas. De acordo com ele, a evidência científica concorre com múltiplos fatores no processo de formulação de serviços e produtos em saúde pública. Somado a esse ambiente competitivo, há uma certa desvalorização do conhecimento científico por parte de alguns tomadores de decisão. “Permanece a visão de que os pesquisadores trabalham em concepções ideais, que não é exatamente aquilo que pode ser praticado no mundo real”, explicou.
Barreto ressaltou que alguns desafios colocam o conhecimento científico em segundo plano: a inexistência de uma agenda comum entre pesquisadores e formuladores de políticas públicas; o volume de informação produzido pela ciência no mundo; e a necessidade de síntese desse conhecimento. “A utilização de um processo dinâmico e interativo, que compreenda a síntese, a disseminação, o intercâmbio e a aplicação de evidências científicas mostra-se fundamental para o avanço da saúde pública”. Barreto apresentou exemplos de plataformas de tradução do conhecimento, como a 3ieimpact, Gesi e Gapminder.
Inteligência como marco em diplomacia
O coordenador do Centro de Relações Internacionais da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (CRInter/UFMG), Ulysses Panisset, corroborou a necessidade de gestão permanente da informação científica para enfrentar fenômenos de saúde entre nações. Ele explica que por meio de sistemas de inteligência é possível organizar grandes quantidades de informações e avaliar os diversos determinantes de uma situação de saúde por meio de iniciativas diplomáticas.
Panisset chamou atenção ao alto nível de vontade e de decisão política exigido para a construção de um sistema de inteligência em saúde capaz de processar e analisar as informações dentro de um marco de solidariedade entre países. “Isso é uma estrutura que não se constrói da noite para o dia”, alertou o coordenador. Segundo ele, requer uma legislação especifica, bem como recursos financeiros e humanos próprios, além da participação da sociedade civil. “Pode-se ter o melhor sistema possível, mas esse sistema requer a presença humana. Tem que ter bons analistas”, sustentou.
O CICLO DE DEBATES é promovido pelo Núcleo de Estudos em Bioética e Diplomacia em Saúde (Nethis/Fiocruz). A agenda do primeiro semestre de 2018 foi organizada com a Agência Brasileira de Inteligência (Abin). Acesse as sessões anteriores aqui.
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Veja a apresentação de slides
Pesquisador da Fiocruz em Brasília Jorge Barreto.
Coordenador do CRInter/UFMG, Ulysses Panisset.