O panorama mundial da saúde apresenta evidentes desigualdades entre os países, tanto com relação aos padrões nosológicos quanto à organização e efetividade dos sistemas de saúde. São problemas mais dramáticos nos países pobres, afligindo severamente as populações carentes que se aglomeram nas periferias urbanas ou vivem em áreas remotas. Em todos os lugares, tornam-se cada dia mais graves as consequências da incorporação não racional de inovações tecnológicas. Característica desse cenário em perspectiva histórica é a dissociação entre o avanço científico, tecnológico e econômico global e as desigualdades das condições de vida da humanidade, segmentada entre os poucos beneficiários do desenvolvimento e os excluídos, que se deparam mais com seus ônus.
Seria razoável supor que as políticas públicas de cooperação internacional adotassem orientações éticas voltadas para a superação de iniquidades econômicas e injustiças sociais. Não obstante, refletem predominantemente interesses de diversa ordem dos países mais desenvolvidos sobre os demais, receptores dessa ajuda externa, de tal modo que a solidariedade internacional contribui, paradoxalmente, para o agravamento das desigualdades nesse contexto.
A cooperação Sul-Sul surgiu como um novo paradigma que visa à superação desses conflitos e o fortalecimento do Sul frente à dependência do Norte. Contudo, há o risco dessa abordagem tornar-se apenas mais uma estratégia ou instrumento para o acúmulo desbalanceado de poder dos Estados nacionais no sistema mundial.
A proposta do curso é aprofundar a reflexão sobre essas questões, particularmente no tocante aos processos de cooperação entre países na área de saúde, onde ressaltam questões bioéticas vinculadas aos métodos, operações e resultados dessas iniciativas.