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As medidas de peso e altura de adultos obtidas pela Pesquisa Nacional de Saúde realizada pelo IBGE – em amostra probabilística de mais de 80 mil domicílios – trazem más notícias sobre a obesidade no Brasil. Segundo a pesquisa, feita em 2013, são obesos um em cada seis homens (16,8%) e uma em cada quatro mulheres (24,6%). O excesso de peso, que engloba estados de pré-obesidade, alcança mais da metade dos homens e das mulheres.
A má noticia fica pior diante dos resultados de pesquisas anteriores do IBGE. Entre 2002/3 e 2008/9, ou em seis anos, a prevalência da obesidade cresce 3,4 pontos percentuais em homens e 3,5 em mulheres. Já entre 2008-9 e 2013, pouco mais de quatro anos, o aumento chega a 4,8 e 7,7 pontos percentuais, respectivamente. A projeção desta tendência indica que, em cinco anos (2020), cerca de um terço da população adulta do Brasil será composta por pessoas obesas, igualando-nos aos Estados Unidos, um dos líderes mundiais na prevalência da obesidade.
Na medida em que a obesidade expressa o desequilíbrio entre ingestão e utilização de calorias, a explicação para o seu crescimento deve ser procurada em mudanças nos padrões populacionais de alimentação e de atividade física. Pesquisas nacionais de orçamento familiar do IBGE realizadas nas últimas três décadas revelam tendência crescente de substituição de alimentos minimamente processados como leite, feijão, arroz, hortaliças e preparações culinárias tradicionais feitas com esses alimentos por refrigerantes, biscoitos, guloseimas em geral, salgadinhos de pacote, macarrão instantâneo, salsichas, hambúrguer e vários tipos de produtos ultraprocessados. Essa tendência implica padrões de alimentação que impedem o organismo de regular o balanço energético, aumentando o risco de obesidade. Estudos sobre padrões de atividade física indicam mudanças menos claras, com aumento discreto na prática de atividade física no lazer e diminuição no deslocamento ativo das pessoas.
A Organização Mundial de Saúde tem chamado a atenção para o aumento da obesidade em todo o mundo e para o seu impacto sobre a saúde das pessoas e os custos dos sistemas de atenção à saúde, enfatizando que o enfrentamento do problema pelos governos requer ações que informem e eduquem a sociedade e propiciem ambiente que estimule, apoie e proteja padrões saudáveis de alimentação e de atividade física.
Passos importantes nessa direção foram dados em nosso país com a elaboração e divulgação pelo Ministério da Saúde do novo Guia Alimentar para a População Brasileira. Este guia, elogiado em todo o mundo, aconselha claramente as pessoas a basearem sua alimentação em alimentos minimamente processados e preparações culinárias desses alimentos (“comida de verdade”) e a evitar alimentos ultraprocessados. Outras ações relevantes incluem a bem-sucedida integração entre a alimentação escolar e a agricultura familiar e a multiplicação de espaços públicos para a prática da atividade física.
Ainda assim, o aumento exponencial da obesidade no Brasil reclama a implementação de políticas cruciais recomendadas pela Organização Mundial da Saúde, incluindo, em particular, a restrição da publicidade agressiva dos alimentos ultraprocessados é medidas fiscais que onerem o custo de produção desses produtos e facilitem a aquisição de alimentos minimamente processados.
Carlos Augusto Monteiro é médico, professor da Faculdade de Saúde Pública da USP e membro do Comitê de Especialistas sobre Dieta e Saúde da OMS
Fonte: O Globo.
Imagem: fapesp.br