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Beneficência, não-maleficência, autonomia e justiça – os quatro princípios que orientam uma das correntes mais tradicionais da Bioética, o principialismo, não bastariam para o filósofo e economista Karl Marx. O esforço de refletir o que pensaria Marx sobre a bioética, e como a obra do filósofo pode contribuir para o desenvolvimento da disciplina, foi apresentado em palestra na UnB, nesta quinta-feira, 10 de outubro, pelo pesquisador do Núcleo de Estudos de Saúde Pública (Nesp/UnB) e do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) Roberto Passos Nogueira. A atividade faz parte do Programa de Pós-Graduação em Bioética (FS/UnB), coordenado pelo professor Volnei Garrafa.
Nogueira tratou de três questões: o pensamento de Marx pode contribuir para a bioética? O que Marx provavelmente pensaria da bioética? O que uma bioética crítica poderia criticar em Marx? Ele ressaltou que há um vazio histórico entre Marx e o surgimento da bioética, em 1970. “Estou fazendo um exercício teórico imaginativo”.
Para ele, a corrente principialista são idealizações de um iluminismo tardio e, neste sentido, desfavorecem a reflexão histórica e filosófica. “Qualquer versão da bioética que se inspire em Marx teria que ser não normativa, crítica e internacionalista”, avisa o pesquisador. Para ele, é necessário contextualizar historicamente e perceber como atuam os poderes que dominam as relações internacionais sob o capitalismo contemporâneo.
A ênfase no pensamento crítico e no fundamento ético da solidariedade – não como princípio, mas como parte da humanidade – seriam os principais ingredientes de uma bioética marxista. Além disso, seria necessário recorrer a outros pensadores para críticar a modernidade tecnológica. “Preciso colocar o dedo na ferida, Marx subestimou o avanço das tecnologias, o desenvolvimento”, disse.
PESQUISAS – Para o pesquisador, a leitura mais correta para identificar a contribuição de Marx ao pensamento bioético, deve ser buscada nos manuscritos econômicos e filosóficos de 1844. E sugeriu o tema para teses de doutorado, desde que as pesquisas não se limitem a recuperar a fala de Marx.