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A importância de se observar a cooperação entre países como oportunidade de desenvolvimento e não como uma nova relação de dependência foi um dos temas de destaque da apresentação do diretor-executivo do Instituto Sul-Americano de Governo em Saúde (Isags), ex-ministro da Saúde, e pesquisador da Fiocruz, José Gomes Temporão, na edição de setembro do I Ciclo de Debates sobre Bioética, Diplomacia e Saúde Pública, promovido pelo Núcleo de Estudos sobre Bioética e Diplomacia em Saúde (Nethis) na FIOCRUZ Brasília, no dia 29 de setembro.
A partir do tema Cooperação Sul-Sul e Complexo Industrial da Saúde, Temporão afirmou que a cooperação entre os países não pode considerar apenas a oferta de insumos e tecnologias. Para ele, é necessário observar como a saúde se insere no processo de desenvolvimento das sociedades. “É preciso estabelecer uma postura de parcerias para que os países possam se desenvolver e se livrar da dependência de tecnologias, a partir de uma perspectiva não colonial, e sim horizontal. A cooperação não pode gerar novas dependências”, disse. Para ele, a saúde está cada vez mais inserida na agenda central dos países.
Ao longo da apresentação, Temporão falou sobre o processo de construção de consciência em saúde e o surgimento de novos fenômenos, como a judicalização da saúde. “As pessoas se orientam, muitas vezes por seus médicos, e buscam na Justiça o acesso a determinado setor da saúde”, explicou. O diretor do Isags falou ainda sobre a saúde no contexto das políticas internacionais e a crescente presença do Brasil na política das relações dos países. “Entre 30 e 40% da cooperação brasileira é saúde”, exemplificou. Temporão destacou a atuação da Fiocruz na África, que visa à transferência de tecnologia para o país.
Entre outros assuntos abordados, o diretor do Isags falou sobre a criação do Instituto Sul-Americano de Governo em Saúde, que tem como uma das áreas de atuação a gestão de conhecimento, colocando à disposição dos governos melhores práticas e experiências realizadas nos países. “O Isags é um arranjo institucional inovador. Possui estrutura enxuta e usa instituições e conhecimentos já existentes para o projeto, a partir do trabalho desenvolvido em rede”.
Temporão destacou ainda a relação entre saúde e desenvolvimento no contexto do Complexo Industrial da Saúde. Segundo ele, a saúde é responsável por 8% do PIB Brasileiro e por 10% da força de trabalho qualificado, que resulta em mais de 12 milhões de empregos diretos ou indiretos.
Para o debatedor e coordenador do Nethis, José Paranaguá, muitos países estão empenhados no tema da saúde. “Esta não é uma situação nova. Em alguns países, esta discussão já se iniciou há 60 anos. O que parece é que atualmente há uma sensação de que existe uma emergência, e que não se pode deixar essa situação se resolver daqui a 15 anos”, afirmou. Paranaguá questionou ainda o futuro que envolve a relação entre desenvolvimento e saúde: “Para onde vai desenvolvimento e saúde? Dependendo do caminho, a conta será muito cara, e, quem parará esta conta?”
A edição de setembro do I Ciclo de Debates contou ainda com a presença do diretor da FIOCRUZ Brasília e diretor-executivo da Escola de Governo em Saúde (EGS), Gerson Penna. O evento tinha como objetivo propor uma reflexão sobre o modelo que deverá orientar as relações do Brasil com países do hemisfério sul – América Latina e África – no que se refere ao complexo econômico-industrial da saúde.