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As epidemias como oportunidade para o fortalecimento da solidariedade e da evolução do conhecimento sobre a vida em prol de toda a humanidade foram o eixo da reflexão do coordenador do Núcleo de Estudos sobre Bioética e Diplomacia em Saúde (Nethis/Fiocruz Brasília), José Paranaguá de Santana, aos participantes do XIV Congresso Brasileiro de Bioética, em 27 de setembro.
“Como orientar os estímulos da doença tendo em vista seus melhores usos sociais?”
As aspirações da humanidade ao longo de sua experiência civilizatória no advento do Mundo Novo, constituído com a invasão das Américas pelos europeus há pouco mais de cinco séculos, foram expressas por autores clássicos, a partir da imaginária ilha de Tomas Morus, Utopia, em 1516. As desilusões sobre um tempo em que todos compartilhariam os benefícios propiciados pelo progresso técnico culminaram em 1948, com a publicação de 1984, de George Orwell. A retomada daqueles ideais foi insinuada por MMcLuhan, ao publicar em 1962, A Galáxia de Gutenberg, onde consta que o mundo vem se tornando uma aldeia global. Em sua abordagem, Paranaguá defendeu a concepção de estudar as epidemias levando em consideração os contextos sociais e geopolíticos em que elas ocorrem.
No seio desse processo evoluiu a aspiração de saúde para todos, que culminou com a criação da OMS, em 1948. A desilusão a esse respeito se expressa com a ideia oposta, progressivamente crescente nas últimas décadas do século passado, de que é possível o pleno gozo dos benefícios do progresso por uma parte da humanidade, sem o compartilhamento com a maioria desses aldeões globais.
Ao encerrar sua reflexão sobre Pestes no Admirável Mundo Novo, Paranaguá pontuou: o entendimento das relações entre saúde e doença, especialmente as pestes em suas dimensões pandêmicas, como fenômenos que afetam diferentemente os diversos grupamentos da humanidade, exige a contextualização desses males no cenário histórico e geopolítico em permanente mutação que caracteriza o processo civilizatório experimentado ao longo de todos os tempos.
A mesa redonda sobre Reflexões Bioéticas na Saúde no Congresso foi coordenada pelo presidente da Sociedade Brasileira de Bioética, Dirceu Greco e pela representante da Sociedade de Bioética de São Paulo, Livia Callegari. Como expositores, além de José Paranaguá, participaram Gonzalo Vecina, professor da Universidade de São Paulo; Marco Bobbio, secretário-geral da Associação Italiana de Slow Medicine; e Régis Rodrigues Vieira, professor e médico de família e comunidade do Hospital Albert Einstein.