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Integração entre a Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I) e Saúde foi tema da edição de setembro do II Ciclo de Debates, promovido pelo Nethis no dia 27 de setembro
A experiência de dois grandes profissionais da área da saúde contribuiu para o debate sobre Ciência, Tecnologia e Inovação em Saúde, realizado no último dia 27 pelo Núcleo de Estudos sobre Bioética e Diplomacia em Saúde (Nethis). As políticas de ciência, tecnologia e inovação em saúde (CT&IS), e as conquistas e obstáculos em um mundo sem fronteiras foram assuntos discutidos pelos convidados.
O coordenador do Núcleo, José Paranaguá, compôs a mesa de abertura ao lado dos dois palestrantes: o professor doutor do Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), Moisés Goldbaum, e o coordenador da Unidade de Medicamentos, Tecnologia e Pesquisa da Organização Pan-Americana de Saúde no Brasil (Opas/OMS), Christophe Rérat.
Moisés Goldbaum (USP), José Paranaguá (Nethis) e Christophe Rérat (OPAS/OMS). Foto: Ellen Mohamed
Na abertura do evento, Paranaguá elogiou os convidados, que possuem vasta experiência em aplicações científicas e tecnológicas na área da saúde. O coordenador da mesa aproveitou para instigar os convidados com algumas perguntas, a fim de estimular o debate. “Como tem sido o crescimento do desenvolvimento científico e tecnológico no país? Quais são as diretrizes?”, perguntou.
Goldbaum falou sobre as políticas de ciência, tecnologia e inovação em saúde (CT&IS), e apresentou alguns dados referentes ao assunto. Segundo o professor, hoje o Brasil possui de 1,8% a 2% da produção mundial de artigos científicos. Em 2009, foram publicados, em média, 40 mil trabalhos, e, por ano, o Brasil forma em torno de 12 mil doutores. Goldbaum comentou ainda sobre a 1ª Conferência Nacional de Ciência e Tecnologia, realizada em 1994, considerada passo inicial para a integração da ciência com a saúde, a partir da Política Nacional de Ciência e Tecnologia como componente da Política Nacional de Saúde (PNCTIS), que se pauta no compromisso ético e social de melhoria das condições de saúde da população, considerando as diferenças regionais e buscando a equidade.
O professor destacou também os princípios organizativos do SUS aplicados à CT&IS: integralidade, que adota a abordagem extensiva e compreende todo o complexo produtivo; equidade, que produz conhecimento adequado às diferentes necessidades de saúde dos segmentos da sociedade; e universalidade, que produz e disponibiliza conhecimento para o conjunto da população. “Essas foram bandeiras levantadas com perspectivas de que o governo pudesse fazer do SUS o reitor da saúde no Brasil”, comparou Goldbaum. No processo de construção da PNCTIS, ele também destacou a criação da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos no âmbito do Ministério da Saúde em 2003, com o objetivo de formular, implementar e avaliar a Política Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação em Saúde.
Em complemento a apresentação de Goldbaum, Rérat falou sobre Ciência, Tecnologia e Inovação em Saúde no contexto global e regional, e apresentou dados sobre tecnologia da saúde e mercado no mundo todo. Para ele, a pesquisa científica e o desenvolvimento tecnológico fazem parte de um universo de pesquisas acadêmicas, enquanto o desenvolvimento dos produtos faz parte do mercado. “A demanda surge das necessidades sociais, daí é desenvolvido um medicamento até gerar um impacto social, e assim, o ciclo de repete”, explicou.
Rérat falou também sobre as prioridades em saúde do grupo de cooperação entre o Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul (BRICS), como: promoção do acesso universal a Tecnologias da Saúde (TS) e fortalecimento dos Sistemas de Saúde e das capacidades regulatórias; e promoção do uso de Plataformas para compartilhar conhecimento sobre medicamentos e TS.
A partir disso, o coordenador traçou uma estratégia global e plano de ação sobre Saúde Pública, Inovação e Propriedade Intelectual, dividida em oito passos: priorizar necessidades em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D); promover P&D; construir e aprimorar a capacidade de inovação, transferência de tecnologia; aplicar e gerir a propriedade intelectual para contribuir para a inovação; aprimorar o fornecimento de serviço e acesso; promover mecanismos de financiamento sustentáveis; e estabelecer sistemas de monitoramento.
Para o adido de saúde do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos, Abraham Miranda, o Ciclo de Debates é muito importante para ajudá-lo a entender como o Brasil pensa o Sistema Único de Saúde (SUS), que, para ele, é muito interessante e diferente dos Estados Unidos. “Eu acho que os outros países podem aprender muito de cada um, a melhor coisa seria fazer um intercâmbio do que é bom lá e o que é bom aqui e assim trocar ideias”, acrescentou.
Rérat, que também é dos Estados Unidos, disse ser importante poder conversar com diferentes atores da saúde, entre pesquisadores, estudantes e gestores. “Sempre é bom para a nós da OPAS ter contato com essas pessoas para amadurecer as reflexões sobre temas que nos interessam”, concluiu o coordenador.
Texto: Ellen Mohamed
NETHIS - Núcleo de Estudos sobre Bioética e Diplomacia em Saúde
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