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Evento reuniu 8 mil participantes, 50 convidados internacionais, 8 mil apresentações de pôsteres e comunicações coordenadas, além de palestras, oficinas, cursos, seminários e mesas
A comunidade da Saúde Coletiva brasileira assistiu ao ministro da Saúde, Alexandre Padilha, entregar a medalha da Ordem do Mérito Médico, concedida pela presidenta do Brasil, Dilma Roussef, à diretora da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), Mirta Roses. O ato foi um dos pontos altos da solenidade de abertura do 10º Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva, no dia 15 de novembro, em Porto Alegre. O presidente da Abrasco, Luiz Facchini, lembrou em sua fala que o “Abrascão é a festa política e científica da Saúde Coletiva no SUS” e os grandiosos números do evento refletem a dimensão da responsabilidade desse campo frente às necessidades da população brasileira.
Os números aos quais Facchini se refere são os quase 8 mil participantes do congresso, que acontece entre 14 e 18 de novembro na capital gaúcha. Durante o evento, serão apresentados 8 mil pôsteres eletrônicos e comunicações coordenadas, cerca de 50 convidados internacionais, além de diversos cursos, grupos de trabalho, seminários, debates, oficinas e palestras. “Todos os trabalhos partem do tema principal do congresso, Saúde é desenvolvimento: ciência para a cidadania, quando queremos envolver a academia e os gestores num macrodebate para definir novos desafios para o SUS”, afirmou o presidente da Abrasco.
Ele lembrou que, “para compreendermos a saúde como desenvolvimento, é necessário que ela esteja numa posição central com as políticas econômica e social do país, pois, por meio de ações com o sistema de saúde, podemos contribuir com a redução das iniquidades existentes no Brasil”. E completou: “não queremos um SUS universal e não segmentado apenas para a alta complexidade, sendo pobre na atenção básica e colocando na iniciativa privada diversos serviços de média complexidade. É contra isso que temos de lutar”.
O presidente da Abrasco levantou uma série de pontos que o SUS deve encarar, tal como: enfrentar a violência urbana e rural para diminuir as epidemias de assassinatos, principalmente entre jovens; reduzir a epidemia de cesarianas realizadas no país; reduzir a epidemia de sobrepeso/obesidade; a busca por uma alimentação saudável; o avanço na proteção ambiental e da saúde do trabalhador e lutar pelo banimento do amianto no país.
“Outra questão que precisamos enfrentar é o subfinanciamento do SUS. Precisamos aumentar o volume de recursos e garantir a responsabilidade de ações integrais e equitativas para toda a população. Temos de acabar com o discurso de que o SUS é para os pobres. Temos, sim, de fornecer acesso com qualidade para todos. Sem um Sistema Único de Saúde com qualidade, eficiente e equitativo não seremos um país rico, e sim um país desigual”, concluiu.
Mirta Roses recebe medalha da Ordem do Mérito Médico
A Ordem do Mérito Médico é uma condecoração criada pela Lei Nº 1.074, de 14 de março de 1950, e tem por finalidade premiar médicos nacionais e estrangeiros que prestaram serviços notáveis ao país ou se distinguiram no exercício da profissão ou no magistério de medicina, ou sejam autores de obras relevantes para os estudos médicos. Foi destacando os notáveis serviços prestados pela diretora da Opas/OMS, Mirta Roses, que o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, entregou a ela tal condecoração.
Surpresa, Mirta Roses disse estar honrada em receber tal reconhecimento durante o congresso da Abrasco, que é um dos eventos mais importantes da agenda da Organização Pan-Americana de Saúde. Em sua fala, Mirta disse ser profunda defensora da Atenção Primária em Saúde como forma de melhorar a qualidade da saúde das populações. E o Brasil é um dos principais aliados da Opas por ter um forte campo de APS e levar suas políticas e recursos financeiros para outros países em prol de melhorar a saúde nas Américas.
Por fim, destacou que “o SUS é um sistema que tem de ser protegido e tratado como patrimônio social e deve continuar sempre em contínuo desenvolvimento para o bem de todos”.
Ministro da saúde apresenta bons números do SUS
Encerrando a solenidade de abertura, o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, convidou Palmira Lopes, figura histórica do movimento popular da Paraíba, para falar brevemente em defesa da saúde popular. Valendo-se de um poema, Dona Palmira, como é conhecida, lembrou ao ministro que o SUS não pode ser privatizado, pois assim prejudicaria os menos favorecidos, e se esse sistema existe hoje, foi resultado de muita luta popular. “Os gestores precisam se encontrar para fazer valer as políticas de saúde do Brasil, envolvendo principalmente os profissionais responsáveis para que compreendam melhor a saúde popular que foi aprovada na última Conferência Nacional de Saúde”, disse a convidada. Saúde popular são as políticas públicas de saúde que respeitam as crenças e o conhecimento cultural da população.
Em seguida, Alexandre Padilha destacou que, em pouco mais de 20 anos, o Brasil reduziu em mais da metade os números da mortalidade infantil, alcançando e superando, em 2011, a meta estabelecida pela ONU nos Objetivos do Desenvolvimento do Milênio quatro anos antes. O mesmo vale para as metas de reduzir a incidência de tuberculose, do acesso universal aos medicamentos contra a Aids e a redução na transmissão vertical do HIV. “Na questão da mortalidade materna, conseguimos reduzir pela metade os índices brasileiros e vamos alcançar a meta proposta pela OMS até 2015”, afirmou.
Padilha destacou que o Programa de Atenção Primária brasileiro é o maior do mundo, atendendo entre 110 e 120 milhões de pessoas. “Porém, apenas números não nos interessam. Queremos, sim, quantidade e qualidade no atendimento prestado”, disse. O ministro informou que, em 2011, foi realizada uma pesquisa de monitoramento de todas as Unidades Básicas de Saúde do país, na qual 82% dos entrevistados afirmaram que não querem mudar de local de atendimento. E, ainda, 87% indicariam um parente para ser atendido no mesmo local onde são tratados. “Isso reflete a confiança da população nos serviços que estamos prestando”, ressaltou.
Outros dados positivos do SUS apresentados pelo ministro foram de que o Brasil é o campeão mundial de transplantes públicos e, em 2011, reduziu em 34% os números de AVC por meio da melhoria dos serviços de urgência e emergência e do Samu. “Quando alcançamos uma etapa, é necessário pensar em novas metas. Por isso vamos trabalhar para reduzir o número de cesarianas no país, além de outro ponto- chave que é uma mudança no espaço hospitalar”, destacou. Padilha lembrou que os prontos- socorros são as áreas menos valorizadas nos hospitais, sendo necessária grande reorganização dos fluxos dos esquemas de trabalho.
“Temos de consolidar o SUS e a saúde como um direito de todos e dever do Estado neste momento econômico e social que o país vive. Não é possível pensar um projeto de desenvolvimento justo e realizável para o Brasil sem uma saúde forte e com qualidade, trazendo o direito à vida, o direito ao cuidado, o direito de reduzir os fatores de risco e o direito de enfrentar os determinantes sociais da saúde”, afirmou.
Por fim, o ministro disse que o Brasil tem de optar cada vez mais por ter um sistema público universal e gratuito, dando continuidade ao projeto do SUS para toda a população; além disso, trabalhar cada vez mais para convencer a sociedade que por meio da saúde é possível ter um país desenvolvido. “Se o Abrascão consolidar essa visão de que a saúde é desenvolvimento, o SUS sai mais fortalecido depois deste encontro”, encerrou.
Fonte: ENSP