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Desnutrição, malária, pneumonia e verminoses são boa parte dos agravos que ocasionaram a grave crise sanitária e humanitária na terra indígena Yanomami, localizada no extremo Norte da Floresta Amazônica. Tragédia que resulta, em última instância, do modelo de desenvolvimento dominante em todo o planeta, que apresenta, em determinadas circunstâncias históricas e em diferentes partes do mundo, sua face mais medonha.
Antes mesmo das imagens de crianças yanomamis desnutridas correrem o mundo, um estudo de 2019 da Fiocruz alertava para níveis de mercúrio acima do limite estabelecido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em crianças e mulheres da etnia em aldeias de Maturacá e Ariabu, no Amazonas. Em abril de 2022, a Hutukara Associação Yanomami, publicou o relatório “Yanomami sob ataque”. Eram prenúncios de um drama humano inconcebível, que encontrou ouvidos moucos até sua explosão escandalosa que hoje entristece a todos e envergonha o Brasil.
Tragédia resultante da destruição provocada pelo garimpo ilegal em regiões dos estados de Roraima e Amazonas. O mercúrio utilizado na atividade garimpeira para separar o ouro de outros materiais contamina solos, rios e peixes. Nessa senda maléfica acomete vidas humanas.
De acordo com o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), apenas em 2018, o garimpo artesanal e em pequena escala lançou cerca de 800 toneladas de mercúrio no ar, 38% do total que inclui outras 1.200 toneladas despejadas na terra e na água. Ao considerar que esse total não é lançado uniformemente em todo o mundo, é fácil entender a origem da desgraça que afeta a vida onde se concentra o uso desse metal, como no caso em tela, o ambiente e todos os seus habitantes, humanos e não humanos, do território yanomamis.
“Antigamente, a gente vivia aqui com nossos parentes. Os rios eram limpos, tinha muito peixe e muita caça. Mas um dia o garimpo chegou e com ele veio o mercúrio. O rio agora é assim, sujo… é lama misturada com mercúrio”, narra Dário Kopenawa Yanomami na animação “Amazônia Sem Garimpo”, realizada pela Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV) em parceria com a Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (ENSP), da Fiocruz. O trabalho integra o projeto de pesquisa “Impactos do Mercúrio em Áreas Protegidas e Povos da Floresta na Amazônia: Uma Abordagem Integrada Saúde e Ambiente”, da Fundação.
O objetivo do Nethis/Fiocruz Brasília, ao compartilhar a divulgação deste vídeo, é contribuir para ampliar o escopo das discussões sobre os conflitos ambientais, suas causas e consequências, como parte da sinergia maldita entre o modelo de desenvolvimento globalizado vigente e o crescimento das desigualdades e injustiças que se acompanham de adoecimentos e mortes.