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Saúde global e cooperação estruturante em saúde foram alguns dos conceitos apresentados aos graduandos do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília (Ipol/UnB) pelo pesquisador Tiago Tasca, do Núcleo de Estudos sobre Bioética e Diplomacia em Saúde (Nethis/Fiocruz Brasília). A aula sobre a saúde nas relações internacionais ocorreu na última quarta-feira, 5 de junho.
“Se vocês compreenderem a saúde sob um prisma holístico, entenderão que ela não se restringe a fornecimento de vacinas, cirurgias e atendimentos médicos. A saúde alcança um completo bem-estar físico, mental e social”, explicou. O pesquisador esclareceu que há relações políticas e sociais no campo da saúde. E é nesse aspecto que os cientistas políticos podem atuar. Segundo ele, por exemplo, esses profissionais podem auxiliar no processo decisório de formulação de políticas públicas para a saúde.
Saúde global: novos atores
É denominada como saúde global o novo arranjo de atores na formulação de políticas para saúde, independentes das instituições tradicionais de apoio e gestão de saúde, como os ministérios da saúde e a Organização Mundial da Saúde (OMS). “A Fundação Bill e Melinda Gates, por exemplo, financia a saúde global mais do que a própria OMS”, sustentou o pesquisador.
Tasca alerta que essa é uma das razões para a desigualdade de investimentos em saúde. Apesar de ser a maior financiadora de ações em saúde, a Fundação Bill e Melinda Gates indica onde esses recursos serão aplicados. “É o que chamamos de recursos carimbados”, falou.
DCNT matam 36 milhões de pessoas por ano
As doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) foi outro tema abordado por Tasca. Elas são responsáveis por 63% de todas as mortes registradas anualmente no mundo. São 36 milhões de mortes por ano, segundo a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas/OMS). Apesar disso, segundo o pesquisador, a maior parte dos investimentos voluntários para a OMS não são indicados para a prevenção dessas doenças. “Apenas 2% do financiamento internacional voluntário vai para as DCNT. Fica claro que as doenças crônicas não são prioridade para o interesse econômico, embora sejam um problema para grande parte dos países”.
Cooperação estruturante em saúde
De acordo com Tasca, a cooperação estruturante em saúde refere-se ao desenvolvimento de capacidades locais e geração de conhecimento em saúde nos países que recebem aporte financeiro externo. “Mandar dinheiro não garante que vai ter um bom médico para atender as pessoas no interior de Moçambique, por exemplo”. Segundo ele, a cooperação estruturante vai além da transferência passiva de tecnologia, envolvendo diretamente os países receptores de ajuda externa com o fortalecimento dos recursos humanos locais.