A colaboração estratégica entre a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) e a Fiocruz, o conceito ampliado de saúde e a instalação de uma Comissão de Saúde, pela Opas, para discutir as lacunas de Alma Ata, foram os principais assuntos do encontro entre a diretora geral da Opas, Carissa Etienne, e a presidente da Fiocruz, Nísia Trindade, na tarde de terça-feira (13/3), na Fiocruz Brasília.
Nisía Trindade destacou que, este ano, o SUS completa 30 anos, e o trabalho conjunto entre Opas e Fiocruz, ao longo de décadas, tem sido estratégico para a preservação e avanço dos programas de saúde no Brasil. “A Fiocruz e suas unidades estão mobilizadas em prol da Agenda 2030 e podemos organizar os vários níveis da nossa colaboração neste sentido”.
Carissa Etienne agradeceu a colaboração com a Fiocruz, “instituição de reputação histórica”, e disse que ter no quadro da Fiocruz antigos colaboradores da Opas é uma vantagem real que fortalece o trabalho das duas instituições. “Precisamos organizar grupos de trabalhos para explorar formas criativas para a nossa colaboração”, sugeriu.
A diretora relatou sua “paixão” pela atenção primária e lembrou que, em 2018, são comemorados também os 40 anos de Alma Ata. “Acredito que a atenção primária é o motor de impulso de todos os sistemas de saúde”, disse. A Opas convocou uma Comissão de Saúde, presidida pela presidente do Chile, Michelle Bachelet, para verificar as lacunas de implementação de Alma Ata, com vistas a proposição de soluções para ampliação do acesso à saúde na região das Américas. Os resultados do trabalho da Comissão serão apresentados na Assembleia Mundial da Saúde em 2019. “Para alcançar os objetivos que não foram alcançados, o trabalho de pesquisa é muito importante e contamos com a Fiocruz”, disse Carissa.
A Conferência de Alma-Ata, realizada em 1978, no Cazaquistão, produziu o consenso de que a Atenção Primária à Saúde era o meio necessário para a efetivação de um nível de saúde mundial que permitisse à população mundial levar uma vida social e economicamente ativa.
Saúde como bem público
Participaram da reunião o representante da Opas no Brasil, Joaquim Molina; a diretora da Fiocruz Brasília, Fabiana Damásio; os assessores da unidade, Gerson Penna e José Agenor Álvares, e o assessor Internacional da Fiocruz Brasília, José Paranaguá de Santana.
Durante o encontro, Nísia destacou, ainda, a importância da colaboração com a Bireme, a realização dos Congressos de Saúde Coletiva e de Medicina Tropical, a necessidade de fortalecer a pesquisa em vigilância e a pertinência das instâncias internacionais da Fiocruz, como o Centro de Relações Internacionais em Saúde (CRIS), coordenado por Paulo Buss, e o Núcleo de Estudos sobre Bioética e Diplomacia em Saúde (Nethis/Fiocruz Brasília), coordenado por Paranaguá. Fabiana Damásio reforçou a necessidade de reunir pesquisadores da Fiocruz e de outras instituições nestes espaços da Fundação que lidam com as questões emergentes de saúde em âmbito internacional.
Ao relatar as reflexões desenvolvidas no Nethis, Paranaguá lamentou que os interesses dos líderes dos países estejam voltados para o que chamou de “antítese da saúde”, como a guerra e as disputas comerciais, e que é importante resgatar a saúde como direito fundamental do ser humano. “O clímax do valor da saúde foi a criação da Organização Mundial da Saúde (OMS), após a 2ª Guerra Mundial, e outro ponto culminante foi Alma Ata, em 1978”, lembrou. “Ouso propor que as duas instituições se posicionem a favor da saúde como bem público universal”.
José Agenor, ex-ministro da Saúde do Brasil, recordou um discurso proferido pelo diretor geral da OMS, Halfdan Mahler, durante a 7° Conferência Nacional de Saúde (CNS) sobre a importância da decisão política para vencer o abismo entre ricos e pobres no acesso à saúde. “O que realmente importa são as pessoas é a frase que ficou marcada dessa Conferência”, disse.