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Organizado pela Convention on Biological Diversity (CBD) e a Organização Mundial da Saúde (OMS), o primeiro informe, intitulado Biodiversidade e saúde humana: conectando prioridades globais, foi apresentado pelo secretário executivo do CBD, Bráulio Dias. Com 16 capítulos que tratam da interface entre biodiversidade e saúde humana, o informe tem como objetivo ser a base para a construção de propostas de políticas públicas. O relatório, que indica as relações diretas entre alterações ambientais e riscos de doenças, aponta que os fatores impactantes da perda da biodiversidade são os mesmos que afetam a saúde humana. “A mudança no uso da terra provoca doenças reemergentes como malária, a sobre-exploração de recursos biológicos causa incidência de pragas que provocam surto de hantavírus, a desertificação dos oceanos põe em risco a segurança alimentar no mundo e a contaminação do ar mata 2 milhões de pessoas por ano”, alertou Dias.
Um dos casos para o qual o relatório chama atenção diz respeito à agricultura simplificada e industrializada, que, por reduzir cada vez mais a quantidade de ingredientes nos alimentos, acarreta maior risco de pragas e, consequentemente, de transmissão de doenças. “Hoje em dia fala-se muito na necessidade de aumentar a produção alimentar. Mas, antes de tudo, é preciso se pensar em qualificar e diversificar essa produção, já que a má alimentação está diretamente associada ao crescimento de doenças crônicas inflamatórias”, ressaltou Dias.
O informe também revela que 15 dos 24 serviços ecossistêmicos estão em declínio no mundo. E atenta ainda para o recente conceito de “limites planetários”, que diz respeito à finitude dos ecossistemas em várias partes do mundo e suas consequências. Entre os exemplos desses limites planetários, Dias citou a extinção do bacalhau no oceano Atlântico e a acidez do mar que tem provocado a morte de recifes. O relatório também mostra que, em todo o mundo, 90% das populações de peixe estão em colapso, 20% das terras secas estão se tornando desertos, 120 milhões de pessoas vivem em áreas afetadas pela desertificação, 60 milhões de nativos dependem das florestas para sobreviver e 33% da população mundial está passando por restrições hídricas.
Saúde Planetária: salvaguardando a saúde humana na época antropocêntrica
Com o tema Saúde Planetária: salvaguardando a saúde humana na época antropocêntrica, o segundo informe, produzido pela Fundação Rockfeller e a Comissão Lancet, foi apresentado pelo professor da London School of Hygiene and Tropical Medicine (Inglaterra), Andy Haines. O relatório destaca que os efeitos na saúde decorrentes de mudanças no meio ambiente, tais como acidificação dos oceanos, mudanças climáticas, degradação das terras, escassez de água, superexploração da pesca e perda da biodiversidade, traz grandes desafios para os ganhos obtidos no campo da saúde global nas últimas décadas.
O relatório identifica os processos e sistemas físicos e biológicos que mais afetam a manutenção do planeta e da espécie humana: as mudanças climáticas, o esgotamento da estratosfera, a acidificação dos oceanos, o uso de água potável, a integridade da biosfera, a mudança no uso da terra e os fluxos biogeoquímicos. “Mudanças substanciais nesses sistemas poderiam produzir mudanças irreversíveis no meio ambiente e seriam desvantajosos para o desenvolvimento e saúde humanos”, reforça o documento. Os três fatores principais que têm levado a mudanças no meio ambiente, segundo o informe, são o crescimento populacional e o consumo e a tecnologia insustentáveis.
O informe ainda propõe soluções para o problema da degradação do meio ambiente e suas consequências para a saúde. Entre elas, o desenvolvimento de cidades sustentáveis e saudáveis, o uso eficiente da água, o uso da agricultura sustentável, a adoção de mudanças na dieta e no manuseio da terra, a criação de novas fontes de nutrição e a conservação das florestas. Haines destacou também a necessidade de sistemas de saúde integrados e diversos que detectem o risco de doenças com antecedência ao seu surgimento assim como a ampliação do acesso ao planejamento familiar moderno. “Há diversas soluções e estas devem estar baseadas na redefinição do que é prosperidade, para que possamos assim resgatar a qualidade de vida e alcançar melhorias na saúde de todos”, concluiu o professor.
Papel da Fiocruz
Presente ao encerramento do evento, o presidente da Fiocruz, Paulo Gadelha, destacou que a Fundação deve desempenhar importante papel no que diz respeito à presença do tema entre os eixos centrais do Ministério da Saúde. “A Fundação tem a vantagem de ter presença nacional que traz conhecimentos locais e globais para discutir e estudar a temática”, disse.
O coordenador geral do Cris/Fiocruz, Paulo Buss, chamou atenção para a recente assinatura do documento referente à Agenda 2030, que integra os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Ele lembrou que alguns desses Objetivos se referem à garantia de vida saudável para todos e à biodiversidade. “Nosso papel é fazer a translação para o Brasil do que foi assinado em Nova York. Temos que vigiar científica e politicamente como os 17 ODS serão acoplados à Agenda no país”, atentou.
Já o assessor de Saúde e Ambiente da Vice-Presidência de Ambiente, Atenção e Promoção da Saúde (VPAAPS/Fiocruz), Guilherme Franco Netto, adiantou que a Fundação deve firmar cooperação com o Jardim Botânico buscando a aproximação de agendas para o alcance das propostas que constam nos dois informes. A coordenadora do Centro de Informação em Saúde Silvestre (CISS), Marcia Chame, fez uma apresentação sobre o trabalho do Centro, que tem suas atividades focadas nas interface entre biodiversidade e saúde. Ela acrescentou que a Fiocruz pode dar uma contribuição ainda maior na área. “A Fundação pode ir além de questões referentes a doenças infecciosas, poluição do ar, agrotóxicos e comunicação e tecnologia. Como esse não é um conhecimento simples a ser passado, ele nos traz um grande desafio: fazer tomadores de decisão compreender todos esses processos e inserir essas questões nas agendas políticas e na sua própria vida”, disse.
O pesquisador do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), Daniel Buss, lembrou algumas das ações da Fundação na construção de propostas sobre biodiversidade e saúde e reforçou a importância da participação da instituição nesse tipo de iniciativa. “Não se deve discutir somente o impacto da deterioração da biodiversidade na saúde humana, mas também os benefícios que a alta biodiversidade pode trazer à saúde, assim como o impacto dos sistemas de saúde na biodiversidade”, alertou o pesquisador, que participou da revisão do informe Biodiversidade e saúde humana: conectando prioridades globais.
Fonte: Agência Fiocruz de Notícias.
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