PESTES, DESENVOLVIMENTO E DESIGUALDADES: Reflexões sobre a Participação Social em Tempos de COVID-19

Notícia publicada em:

  • 25 de Fevereiro de 2022
Os efeitos do desenvolvimento globalizado no agravamento das desigualdades durante a atual pandemia são desafios candentes para as políticas públicas direcionadas aos interesses da sociedade mundial. O Ciclo de Debates no 1º semestre de 2022 visa questionar o ideal democrático da participação social no cenário das relações internacionais no campo da saúde no contexto da atual pandemia.

O Ciclo de Debates¹ sobre Pestes, Desenvolvimento e Desigualdades visa problematizar, no cenário da pandemia da Covid-19, a validade e os caminhos a palmilhar ante o ideal democrático da participação social em saúde no cenário das relações internacionais. A escolha deste tema se justifica a seguir, com um sumário das reflexões constantes em texto elaborado pela equipe de consultores do Nethis².

Um dos efeitos do desenvolvimento globalizado se expressa no agravamento das disparidades entre os países, separados entre ricos e pobres, dadas suas assimetrias sociais e econômicas. Males que, infelizmente, ocorrem internamente em todos os países, resultantes da progressiva concentração de renda que condena grande parte de seus cidadãos à extrema miséria.

Este cenário de desigualdades se revelou de modo candente na pandemia da Covid-19, ao escancarar a disjunção entre o potencial científico e tecnológico atualmente disponível no mundo e as limitações ao seu usufruto entre todos. Observa-se um descompasso aberrante entre o acesso aos benefícios advindos desse potencial, tanto na aplicação de medidas específicas como a vacinação, como na disponibilidade das condições sociais e econômicas que reduzem riscos, adoecimentos e mortes.

A Covid-19 nos recoloca face a face ante desafios cuja superação depende de políticas públicas. As preocupações, na vigência da peste, se direcionam mais ao esforço para atendimento dos doentes no âmbito dos sistemas de saúde e, também, aos desafios científicos e tecnológicos para encontrar meios adequados de tratamento e prevenção. O que é compreensível, pois adoecer e morrer são motivos alarmantes para todos.

Contudo, há outras dimensões dessa situação pandêmica que dizem respeito, igualmente, ao desencontro entre o que é potencialmente realizável a bem de todos e o que tem sido alcançado como usufruto reservado a poucos.

Não se trata de discutir prioridades, pois as preocupações atuais dizem respeito a medidas que devem ser adotadas, de imediato ou no futuro mais próximo possível, para conter os acometimentos mórbidos vigentes.

A intenção é levantar a discussão sobre aspectos que, pouco abordados no presente, negligenciam a atenção sobre o porvir, seja qual for a causa da próxima peste, de natureza biológica ou não. Cuidar do presente é imperioso, mas o futuro se constrói a partir do presente, ambos frutos do passado.

Nesse sentido, um dos aspectos a considerar diz respeito ao uso social do conhecimento e das inovações advindas do desenvolvimento científico e tecnológico, no contexto atual do mundo globalizado.

Essa inquietação advém de que tais processos dependem de políticas públicas voltadas para os interesses da sociedade, mediante regulação dos intricados processos de produção, de comercialização e de divulgação de produtos e serviços de saúde. Cadeia de processos que, na aldeia global, extrapola a esfera de cada país, especialmente dos menos desenvolvidos, integrantes do extenso Sul Global.

Ante esses aspectos, cabe indagar: quais as formas de expressão das sociedades nacionais no contexto das relações internacionais, em assuntos relativos à saúde? Questão cuja complexidade advém das múltiplas interfaces desses assuntos ao perpassarem a seara das políticas diplomáticas, que nem sempre se orientam na mesma direção, em especial no tocante ao usufruto de bens e serviços considerados essenciais para a saúde.

O eixo dos debates ora propostos tem origem no entendimento de que o enfretamento das pandemias é da alçada dos políticos e gestores, dos cientistas e dos empresários, mas interessa mormente à população, que suporta a cota maior de sofrimentos.

As pestes já passadas, a atual e as vindouras são preocupações de todos, pelo que vale recordar, numa feição variante, o axioma que interliga o futuro ao passado via o presente: a peste da Covid-19 tem muito a ver com o que ocorreu no passado, remoto ou recente, assim como as pestes vindouras, desconhecidas como é da natureza do porvir, resultarão do evoluir do presente.

 


1 A Escola de Governo Fiocruz Brasília (EGF-Brasília) fornecerá certificados de participação aos inscritos em cada sessão, transmitidas via YouTube.

2 Texto enviado para publicação, adotado como termo de referência do Ciclo de Debates e disciplina do Mestrado Profissional em Políticas Públicas de Saúde da EGF-Brasília, no primeiro semestre de 2022.