UnB discute imaginário que une povos lusófonos

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  • 14 de Setembro de 2012

Universidade recebeu intelectuais, diplomatas, filósofos e pensadores livres para tratar de aspectos transcendentes das culturas de países de língua portuguesa

Não são apenas os aspectos linguísticos e históricos que entrelaçam as culturas de Brasil, Portugal e suas ex-colônias. Pensadores lusófonos ressaltam na Universidade de Brasília a existência de uma esfera mítica, que une e garante a identidade dos povos. Aberto na segunda-feira, 10 de setembro, em solenidade no Senado Federal e hospedado a partir de terça-feira no auditório da Reitoria, o 1º Seminário sobre o Imaginário Luso-afro-brasileiro evoca aspectos que ultrapassam os limites da ciência e exaltam o uso da imaginação.

“Tudo que será exposto aqui é simplesmente um convite à reflexão”, explicou Loryel Rocha, representante do Instituto Mukharajj, uma das entidades responsáveis pela realização do seminário. “O debate que se abre aqui traz e busca propostas e, sobretudo, diálogos inovadores e renovadores para a amizade entre os povos”, disse Loryel na abertura das atividades para as cerca de 60 pessoas que ocupavam o auditório.

Também presente na mesa inaugural, o reitor José Geraldo de Sousa Junior ressaltou a relevância do seminário para a universidade. “O seminário tem como eixo importante aquilo que a própria universidade tem como um dos horizontes de seu compromisso institucional, que é integrar-se e compartilhar objetivos com os países de língua portuguesa”, afirmou. José Geraldo lembrou que o evento está integrado às comemorações do jubileu da UnB.

Um dos idealizadores do seminário é o ambientalista Luís Cláudio Oliveira, presidente do Instituto Espinhaço, organização voltada para a promoção e preservação da cultura e para o desenvolvimento socioambiental. Ele falou das articulações para tirar os projetos do papel e enfatizou a necessidade de “sonhar” para aproximar e projetar as culturas. “É por pura ousadia que estamos aqui hoje”, disse, ao ressaltar que os sonhos devem visar realizações. Opinião compartilhada pelo ator e poeta português Tony Correia, que em rápida apresentação defendeu uma postura otimista para a construção de um futuro melhor para os países lusófonos. “Utopia é um lugar que ainda não existe, mas que podemos construir”.

RECONHECIMENTO – O seminário tem como referência central o legado deixado pelo filósofo português Agostinho da Silva, fundador do Centro Brasileiro de Estudos Portugueses (CBEP) da UnB, e pelo ex-diplomata e ex-governador do Distrito Federal, José Aparecido de Oliveira. “Foram dois pioneiros no estudo das questões pertinentes aos países de língua portuguesa”, explicou a coordenadora do encontro Chenia Àvila, professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo.

Uma série de apresentações do seminário busca ressaltar a obra de Agostinho, falecido em 1994, e José Aparecido, que morreu em 2009. O reitor José Geraldo falou sobre “a presença marcante” de Agostinho nos momentos inaugurais da UnB e destacou a importância dele para instaurar um centro de estudos de língua portuguesa e para fortalecer o Instituto de Letras. “Ele e Frei Mateus (ex-reitor) são pilares que não foram colocados em uma lembrança continua como Darcy Ribeiro e Anysio Teixeira”, lamentou.

A trajetória de Agostinho também foi destacada pelo diplomata Jerônimo Moscardo. “Agostinho foi o grande formulador da política externa independente brasileira”, afirmou, ao comentar a criação de um núcleo de estudos afro-orientais na Bahia e a influência que o filósofo exercia sobre a política externa do governo Jânio Quadros. Moscardo exerceu os cargos de embaixador brasileiro na Bélgica e na Costa Rica, e hoje é secretário especial de Imprensa do Senado Federal.

COMUNIDADE – Outro ex-embaixador presente, Lauro Moreira lembrou a participação de José Aparecido na fundação da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP). “Após uma demorada fase de consultas com mesas redondas no Brasil, em Portugal e em Angola, que culminaram com a intervenção decisiva do então embaixador brasileiro em Lisboa, José Aparecido, e a determinação política dos presidentes (de Portugal) Mário Soares e (do Brasil) Itamar Franco, foi finalmente assinada a declaração constitutiva da CPLP”, explicou. Moreira foi condecorado personalidade lusófona do ano de 2009 pela CPLP.   

Por Hugo Costa – Da Secretaria de Comunicação da UnB