Coordenadora do Elsa-Brasil fala sobre luta contra diabetes no país

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  • 13 de Abril de 2016

Informe Ensp

No Dia Mundial da Saúde (7/4), a Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou relatório atualizado sobre diabetes que, anualmente, é responsável por 14,5% do total de mortes em todo o mundo. A Fundação Oswaldo Cruz também tem contribuído para o combate à enfermidade. Atualmente, a instituição está conduzindo o maior estudo de coorte multicêntrico brasileiro, o Elsa-Brasil, que inclui dados sobre a doença. Pesquisadora do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) e coordenadora do Elsa-Brasil, Rosane Härter Griep conversou com o Informe Ensp sobre a preocupação do estudo com diabetes, apresentou alguns dados a respeito da pesquisa na Fiocruz e ressaltou a importância da adoção de hábitos saudáveis na luta contra a doença.

Informe Ensp: De que forma o projeto Elsa toca no tema diabetes?

Rosane Griep: O diabetes é uma doença crônica não transmissível cuja prevalência tem aumentado de forma significativa nas últimas décadas. Segundo as estimativas da OMS, a prevalência no mundo aumentou de 108 milhões em 1980 para 422 milhões em 2014. A doença se desenvolve quando o pâncreas não produz insulina (hormônio que regula o nível de glicose no sangue) suficiente ou o organismo não consegue utilizar a insulina que é produzida.

O diabetes tipo 2 é o tipo mais frequente de diabetes. Sua etiologia é complexa envolvendo a inter-relação de diversos fatores que resultam na deposição central de gordura, além de órgãos como fígado, coração e pâncreas. Entre esses fatores, destacam-se os hábitos alimentares inadequados, aumento da obesidade e sedentarismo. Além desses, os determinantes sociais e psicossociais, relacionados à forma como as pessoas vivem e trabalham, têm grande importância

O Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto (Elsa-Brasil) tem como um de seus objetivos centrais investigar em profundidade essas inter-relações de fatores que poderiam explicar a ocorrência do diabetes no contexto brasileiro. O estudo foi cuidadosamente delineado permitindo, por exemplo, estudar a situação socioeconômica, o estresse crônico, os hábitos de vida e os horários de trabalho que, no conjunto, podem propiciar pessoas suscetíveis geneticamente a desenvolver diabetes.

Informe Ensp: Quais são os principais resultados do acompanhamento do estudo em relação ao diabetes?

Rosane Griep: Diversas produções científicas sobre a prevalência e fatores associados ao diabetes foram produzidas utilizando os dados da primeira visita dos participantes ao Elsa-Brasil. Por exemplo, um estudo mostrou que cerca de 20% foram classificados com diabetes, mas metade deles desconheciam o diagnóstico da doença antes da visita aos centros de investigação. A prevalência da doença foi maior entre os homens e entre os participantes de escolaridade mais baixa, aumentando consideravelmente com o envelhecimento e o aumento do IMC.

Além disso, outros artigos recentes mostraram que a maior ingestão de laticínios deve melhorar os níveis glicêmicos, diminuindo as chances de diabetes. Esses resultados têm importantes implicações para a saúde pública, dado o declínio do consumo de laticínios e aumento da prevalência de diabetes no Brasil. Além disso, o consumo de café parece ter um efeito protetor em relação ao risco de desenvolver diabetes. Em indivíduos não obesos, foi observado associação entre o maior consumo de bebidas adoçadas artificialmente e maior prevalência de diabetes. Fatores como a idade precoce da menarca (< 11 anos de idade) também foram associadas ao maior risco da doença na população do Elsa-Brasil.

No que se refere aos fatores relacionados ao trabalho, observou-se associação entre a exposição ao trabalho noturno e o diabetes. Especialmente entre as mulheres, foi observada a relação dose-resposta entre o tempo de exposição ao trabalho noturno e as chances de ter diabetes.

Informe Ensp: O relatório divulgado pela OMS diz que, de cada 11 adultos no mundo, 1 é diabético. Quais devem ser as principais ações para reverter esse quadro?

Rosane Griep: O desafio é grande, mas precisa ser enfrentado. Em primeiro lugar, a ampla divulgação, de forma que o conhecimento sobre a doença, suas complicações e as principais formas de prevenção sejam disseminadas. É preciso que a prevenção da ocorrência do diabetes, seja efetivada por meio de políticas públicas que promovam hábitos saudáveis desde a infância, tais como os hábitos alimentares, o aumento da atividade física e a prevenção da obesidade no âmbito das famílias e nas escolas. É preciso promover ambientes saudáveis com maior oferta de alimentos saudáveis e oportunidades de prática de atividade física nos locais de moradia e nos locais de trabalho. O tratamento medicamentoso, quando aplicado em estágios mais avançados da doença, por si só, não é mais suficiente, requerendo também medicamentos que podem aumentar a obesidade.